Humans – Qual a linha que define a diferença entre homem e máquina?

Imagine que sua vida está um caos e, para ajudar a botar ordem na casa, existe a possibilidade de você comprar um “Synth”, um robô de alta tecnologia que se assemelha em quase 100% a um humano. Está é a premissa de Humans, série da AMC que se passa em uma Londres dos dias atuais, mas com uma tecnologia do futuro. Além do plot principal, a série também traz momentos de tensão e reflexão, afinal, como seria ter um sintético vivendo com a sua família e agindo como um quase ser humano?

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O ator Tom Goodman-Hill, que interpreta Joe Hawkins na série, conversou com a gente pelo telefone e contou sobre o que ele pensa do futuro da tecnologia e seu amor por Douglas Adams (porque ele é um mochileiro que nem a gente)!

Obrigado Pelos Peixes – O que você acha que aconteceria se tivéssemos inteligência artificial em humanos?
Tom Goodman-Hill – Atualmente já é meio caminho andando, ou melhor, já passamos da metade do caminho, pela maneira como interagimos com a tecnologia, com aparelhos portáteis, como se fossem uma parte extra do nosso cérebro. Acho que o objetivo da série é perguntar o quão distante do futuro estamos dessa ideia, da inteligência artificial fazer parte do nosso dia a dia, quando na verdade já faz parte do nosso dia a dia.

 
OPP – Qual a maior vantagem e maior erro de termos inteligencia artificial entre nós?
TGH – A maior vantagem seria o acesso ao conhecimento, o acesso ilimitado aos fatos, estatísticas e qualquer informação a qualquer momento.
Mas essa facilidade também é uma coisa ruim, ela tira todo o senso de autonomia dos humanos. Faz com que as pessoas sejam menos pró ativas na maneira com que elas administram suas vidas. O acesso ao conhecimento se tornou muito fácil, e esse é o perigo, porque toda essa informação se tornou mais disponível para nós e nossos cérebros estão cada vez menos indagadores, e também isso pode prejudicar nossa inteligência e podemos estar a caminhos de nos tornarmos redundantes referente ao nosso senso de investigação e também como seres humanos, já que a inteligência artificial nos fornece conhecimento, fazendo com que não tenha mais nada para nós descobrirmos.

OPP – Acho que nos viciamos com essa tecnologia e ao mesmo tempo ficamos preguiçosos com toda essa facilidade.
TGH – Eu concordo, antigamente você ficava conversando com um grupo de pessoas sobre qualquer assunto, e discutiam sobre qual seria a solução para aquele assunto, e também compartilhava algum conhecimento e experiência anterior com o que está sendo discutido. Agora, alguém na mesa pega o celular e diz “vou pesquisar no Google”.

OPP – Sim, a conversa de bar costumava ser assim, agora nós procuramos tudo no Google.
TGH – Acho que estamos matando a arte da conversação. E isso está fazendo com que os mais jovens, em particular, estejam se tornando mais ansiosos à respeito de interação social, está cada vez mais difícil para eles terem uma conversa com as pessoas ao seu redor, e acho que muitos jovens, até mesmo meus filhos, acham mais fácil ter uma conversa on-line do que pessoalmente. Se tornou tão normal na vida deles que é mais fácil conversar pelas redes sociais do que cara a cara.

OPP – Você também atuou na série Black Mirror. Você acha que as duas séries (Black Mirror e Humans) estão relacionadas e mostram aspectos da vida real?
TGH – Elas tem a mesma origem, a ficção científica e Channel 4 (o canal onde as séries são transmitidas no Reino Unido). Eu trabalhei algumas vezes com Charlie Brooker (criador da série) antes de atuar em Black Mirror, no primeiro episódio The National Anthem, e não há duvidas de que ele está trabalhando com temas variados, mas mostrando um ângulo totalmente diferente; ele está usando uma abordagem mais fantástica. Ele leva uma ideia ao extremo, onde na história os humanos tem uma presença meramente paralela e como eles agiriam perante àquilo e imaginando como a vida iria seguir naquela situação em particular, por um longo período. Ele está sabendo trabalhar com as mais variadas ideias que surgem sobre a tecnologia e inteligência artificial. Esses temas clichês fazem ótimos best-sellers (risos).

Black Mirror Benjy

OPP – Você é do Reino Unido, então está familiarizado com Doctor Who e o Guia do Mochileiro das Galáxias.
TGH – Sim, estou familiarizado. Aliás, eu estava dizendo à Virgínia (correspondente do canal AMC) que sabia de onde vinha o nome do seu site (risos).
Douglas Adams é meu herói, eu simplesmente o venero. Ele foi o primeiro autor de ficção científica que eu li várias vezes, e Arthur C. Clark também li muito (autor de 2001: Uma Odisseia no Espaço), e eu também atuei em Doctor Who, assisti a série durante a minha infância, então Douglas Adams e Doctor Who fazem parte da minha vida.

Tom interpretou o Reverendo Arnold Golightly, no episódio The Unicorn and The Wasp, da quarta temporada - episódio em que o Doutor e a Donna conhecem Agatha Christie, em 1926.

Tom interpretou o Reverendo Arnold Golightly, no episódio The Unicorn and The Wasp, da quarta temporada – episódio em que o Doutor e a Donna conhecem Agatha Christie, em 1926.

OPP – Você acha que Douglas Adams conseguiu prever em seus livros muita coisa da tecnologia que temos agora?
TGH – Sim, acho que ele conseguiu mostrar para onde a humanidade estava seguindo, e acho que sua habilidade em prever o futuro da tecnologia e inteligência artificial foi formidável, e ele foi capaz de fazer isso com humor, e acho isso importante pois é uma ótima maneira de compartilhar suas ideias a toda uma geração. Por mais que eu ame o seu trabalho, ele tinha um estilo e preferências mais peculiares, mas mesmo assim Douglas Adams foi capaz de se comunicar com toda uma geração. Mais do que uma geração, todos amam seu trabalho, ele fazia tudo com muito humor, e todo mundo se envolveu com suas ideias

 

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OPP – Acho que muitas pessoas gostaram de conhece-lo e quem sabe você pudesse vir até mesmo para participar da CCXP. Você costuma frequentar esses eventos? Você já participou de algum tipo de evento parecido com esse antes?
TGH – Nós começamos a participar da Comic Con recentemente, apenas no ano passado, então eu compareci em apenas dois desses eventos, e tinha uma quantidade enorme de fãs lá. Eles são sempre divertidos. Eu particularmente gosto muito de ver o Artist Alley, e conhecer os desenhistas, e alguns deles também roteirizam, e é sempre agradável conhecer esses artistas, e também adoro ver os incríveis cosplays.

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OPP – Quem sabe um dia você possa vir ao Brasil para conversar sobre seu trabalho e sobre Douglas Adams com a gente.
TGH – Eu adoraria, ficaria muito feliz em ir. Seria ótimo conhecer os fãs brasileiros, e espero que todos gostem da segunda temporada de Humans.

 

A segunda temporada de Humans estreia domingo, dia 29 de janeiro, às 22h no canal AMC.

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May

Uma whovian que nunca esquece de levar sua toalha na TARDIS e nunca dispensa uma xícara de chá. Ainda acha que vai encontrar a pergunta fundamental sobre A Vida, o Universo e Tudo o Mais em alguma viagem no tempo ou no espaço.