Esta quarta parte, da nossa série de seis, descreve um pouco do tipo de ambiente que Douglas Adams encontrou nas suas viagens e que culminou nesse livro maravilhoso. Não se esqueçam de ler as partes anteriores, que se encontram nos links abaixo.

Parte 01

Parte 02 

Parte 03

Uma das coisas mais peculiares que me aconteceu foi fruto de uma ideia que tive quando era um mochileiro sem um centavo furado dormindo em campos e cabines telefônicas, e agora editoras me enviam pelo mundo em onerosas viagens de divulgação e me arranjam um tipo de quarto de hotel onde tenho que abrir diversas portas antes de encontrar minha cama. Na verdade, eu estava chegando em Antananarivo direto de uma viagem de divulgação nos E.U. que foi exatamente assim, então minha primeira reação ao me encontrar dormindo em um chão de concreto em cabanas infestadas de aranhas no meio da floresta foi, estranhamente, de completo alívio. Semanas daquele consumismo americano entediante foram pelo ralo como lama no chuveiro e pude deitar e curtir estar maravilhosamente, serenamente, asquerosamente desconfortável. Posso afirmar que Mark não percebeu isso e estava no começo bem sem jeito ao me mostrar meu lugar no chão – “É, vai ficar tudo bem? Me disseram que teríamos colchões… Hum, será que a gente pode amaciar o concreto um pouco para você?” E eu tinha que ficar repetindo, “Você não está entendendo. Está ótimo. É incrível. Estava esperando por isso há semanas.”

Na verdade, não conseguimos dormir nadinha. O aye-aye é um animal noturno e não aceita compromissos durante o dia. Os poucos aye-ayes que foram descobertos em 1985 foram encontrados (ou mais comumente não encontrados) em uma minúscula, idílica, ilha tropical chamada Nosy Mangabé, ao nordeste do litoral de Madagascar, para onde se removeram vinte anos antes. Era o seu último refúgio na terra e ninguém podia visitar a ilha sem permissões especiais do governo, que Mark consegui arrumar para a gente. Era exatamente onde nossa cabana estava, e foi ali que passamos noite após noite se arrastando na floresta tropical em meio a chuvas torrenciais, carregando lanternas minúsculas e bruxuleantes (as grandes e poderosas que trouxemos no avião haviam ficado junto com o “excesso” de bagagem que dispensamos no Hilton de Antananarivo) até que… encontramos um aye-aye.

 

Written By

Carlos Eduardo

Meu nome é Carlos Eduardo e já completei 37 primaveras. Meu sonho é ter um robô de estimação e viajar o mundo em um balão.