Mark Carwardine e Douglas Adams no Chile, em dezembro de 1988, em uma locação para Last Chance To See

Embora muitos textos novos de Douglas Adams nos tenham sido apresentados nesses últimos anos, seu livro favorito ainda se mantém inédito em língua portuguesa.

Com o intuito de amenizar um pouco da ansiedade dos fãs de nosso querido autor, apresentaremos nas próximas semanas o primeiro capítulo na íntegra de The Last Chance to See. O capítulo será publicado aqui em seis partes. O sucesso dessa publicação vai nos dizer se devemos continuar na tradução dessa obra.

Para mais informações sobre esse título, visitem os links abaixo:

http://www.obrigadopelospeixes.com/2015/07/20/nossa-ultima-chance/

http://www.obrigadopelospeixes.com/2013/11/12/palestra-douglas-adams/

 

A Tecnologia dos Gravetos

Jamais imaginara algo assim. Em 1985, por conta de um acidente jornalístico, fui enviado a Madagascar com Mark Carwardine para procurar uma espécie de lêmure quase extinta chamada aye-aye. Nós três não nos conhecíamos. Eu nunca havia encontrado Mark, ele não me conhecia, e ninguém, aparentemente, avistara um aye-aye em anos. Essa era a ideia da Observer Colour Magazine, nos jogar lá às cegas.

Mark é um zoólogo com extrema experiência e conhecimento que trabalhava na época para a World Wildlife Fund e seu papel, essencialmente, era ser aquele que sabia o que estava falando. Meu papel, e para o qual estava totalmente qualificado, era ser um não-zoólogo extremamente ignorante para quem tudo o que acontecesse viria como uma completa surpresa. Tudo que o aye-aye tinha que fazer era aquilo que os aye-ayes têm feito há milhares de anos: sentar em árvores e se esconder.

Como praticamente tudo que vive em Madagascar, ele não existe em nenhum outro lugar da terra. A sua origem remonta ao período da história da terra em que Madagascar ainda era parte do continente Africano (e esse por sua vez era parte do supercontinente gigante de Gondwanaland), época em que os ancestrais dos lêmures de Madagascar eram os primatas dominantes de todo o planeta. Quando Madagascar rumou para o Oceano Índico, ficou totalmente isolado de todas as mudanças evolucionárias que aconteceriam no resto do mundo. Um bote salva-vidas de uma época diferente. É agora quase como um pequeno, frágil e separado planeta.

A maior mudança evolucionária que passou por Madagascar foi a chegada dos macacos. Esses eram descendentes dos mesmos ancestrais que os lêmures, porém tinham cérebros maiores, e eram competidores agressivos pelo mesmo habitat. Enquanto os lêmures sentiam prazer em se socializarem nas árvores e se divertirem juntos, os macacos eram ambiciosos e interessados em todo tipo de coisas, especialmente gravetos. Com esses descobriram que poderiam fazer várias coisas que não poderiam fazer sozinhos – cavar atrás de coisas, cutucar coisas, bater em coisas. Os macacos dominaram o planeta e o galho dos lêmures da família dos primatas foi extinto em todos os lugares – exceto em Madagascar, aonde os macacos não chegariam por milhares de anos.

Então mil e quinhentos anos atrás, os macacos finalmente chegaram, ou pelo menos seus descendentes – nós. Graças a avanços surpreendentes na tecnologia dos gravetos, chegamos em canoas, barcos, e finalmente aviões, e mais uma vez começamos a competir pelo uso do mesmo habitat, só que desta vez com fogo, machado e animais doméstico, com asfalto e concreto. Os lêmures mais uma vez tinham que lutar pela sobrevivência.

Meu avião cheio de descendentes de macacos chegou no aeroporto de Antananarivo. Mark, que tinha ido na frente para fazer os preparativos para a expedição, me encontrou pela primeira vez lá e me explicou o esquema.

“Deu tudo errado”, ele disse.

 

Written By

Carlos Eduardo

Meu nome é Carlos Eduardo e já completei 37 primaveras. Meu sonho é ter um robô de estimação e viajar o mundo em um balão.