Escrevo esse texto enquanto espero uma amiga terminar seu ensaio de teatro. Tive a ideia a comparar o que via com o que pensava. Bom, um pássaro e O pássaro… Espero que gostem.

O pássaro pousa acima da grade do portão. Um portão branco, não muito alto, mas um belo portão.
Lá está o pássaro… Confuso talvez, ou não. Ele se mexe com movimentos bem rápidos, observando pontos a sua volta como se procurasse algo. Sua cabeça se mexe para direita, para cima. Para esquerda, para baixo. Mas nunca para frente… Talvez, ele já esteja cansado de olhar para frente, não tem nada lá. Na verdade, não há nada em lugar nenhum. Bom, pelo menos não para o pássaro. Mas, o que o pássaro quer? O que ele pretende? O que ele faz? E por que ele faz? Bom, essas perguntas são deveras fáceis de se responder a não ser por uma. Uma resposta, voar, observa e bom… Aí que está o problema, como saber por quê? Não tem como saber isso. Talvez só o pássaro saiba.
Ele não parece feliz… Parece desesperado. Algo está perturbando o pequenino. Ele pia e chia desesperadamente, clamando por algo. Como se chamasse alguém. Quem? Por que? …
Bom, ele desiste daquele lugar. Em parte, creio eu, por conta de ser uma rua, com carros e asfalto, algo que não muito interessa ao pequenino.
Então ele olha finalmente para frente, com um olhar desapontado e com um movimento único, dá impulso com suas pequenas pernas e plana como que por mágica para além do portão e some da minha visão. Vai em bora, me abandonando apenas em pensamentos abissais de minha mente perturbada, imaginando o que aquele pássaros pensava. Por que aquele pássaro pensava… Para onde ele ia e por que ele ia… Teria ele me visto? Teria ele pensado sobre mim? Teria ele se enganado sobre o lugar? Porque? POR… QUÊ… ?
O que era, quem era aquele pássaro? Que consegue passar o universo todo em alguns segundos por dentre suas garras… Consegue manipular a tudo e a todos, só pela hipnose de existir… Fascinante esse pássaro. Fascinante “O” pássaro, que mesmo sem saber o que acontece, sabe que acontece e mesmo sem querer saber das coisas, sabe de tudo e quando acha que sabe de tudo ele acha um novo pedaço de asfalto ou um novo estilo de folha, ou talvez não, talvez o pássaro seja só o pássaro assim como um pássaro é só um pássaro.
Creio que, na realidade, as pessoas não reparam, não observam o pássaro, eles apenas os olham com admiração de sua beleza visual, “olha o pássaro alí!” “Que bonito…”, acho isso tão babaca. Provavelmente você já mais vai ver um pássaro do mesmo jeito e se ver, acho melhor reler esse texto todos os dias antes de dormir.
Vinte dias depois, aqui estou eu novamente, esperando a mesma amiga no mesmo galpão ensaiando a mesma peça e eu escrevendo o mesmo texto e olha lá! Olhando para o — creio eu — mesmo pássaro. Em dez dias aconteceram tantas coisas, já fiz tantas amizades, olhei tantas estrelas, comi tantos pães e ele já voou por dentre tantas árvores, comeu tantas minhocas, cuidou tanto de seus tantos ovos, defecou em tantas pessoas, para nos reencontrar. Eu aqui, sentado na mesma cadeira, olhando para a mesma direção, esperando a mesma pessoa, vestido com os mesmos sapatos e ele pousado na mesma grade, do mesmo portão, olhando para a mesma pessoa com o mesmo olhar de  desprezo, pensando as mesmas coisas sobre a mesma pessoa… Talvez essa seja a vida não é mesmo? A tão famigerada ” VIDA”, mas por favor, não me fale de VIDA.

Mariano Bastos – 28/01/2016 – entediado, de novo, praticamente inofensivo.

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