De Pan Promotion 54, Outubro de 1983
The Meaning of Liff* ganhou vida como um exercício de inglês que tive de fazer na escola e que então, quinze anos mais tarde, fora transformado numa brincadeira por John Lloyd e eu. Estávamos sentados com alguns amigos em um restaurante grego, brincando de criar charadas e bebendo retsina a tarde toda, até que fora preciso achar um passatempo que não exigisse que levantássemos muitas vezes.
Era simplesmente o seguinte (precisava ser simples, a tarde já se entendia bastante para regras complicadas): alguém diria o nome de uma cidade e uma outra pessoa diria o que a palavra significava. Era necessário que a pessoa tivesse estado lá.
Rapidamente descobrimos que havia um número terrivelmente grande de experiências, ideias e situações que todos sabíamos e reconhecíamos, mas que nunca antes haviam sido propriamente identificadas porque não existiam palavras para elas. Eram todas do tipo “Já esteve em uma situação em que…”, ou “Sabe aquela sensação que se tem quando…”, ou então “Cara, sempre pensei que isso só acontecesse comigo…”. O que é preciso na verdade é uma palavra, e a coisa é assim identificada.
Então, aquela sensação vagamente desconfortável que se tem quando se senta em um banco que ainda está quentinho por conta do traseiro de alguém é uma sensação tão real quanto aquela que se sente quando um elefante brincalhão gigante sai do meio de um arbusto e lhe ataca, mas que até então apenas a última tinha uma palavra para tal. Agora ambas têm verbetes. A primeira é “shoeburyness”, e a segunda é, claramente, “medo”.
Começamos a coletar cada vez mais dessas palavras e conceitos, e começamos a perceber quão arbitrário é o trabalho seletivo do Oxford English Dictionary. Este simplesmente não reconhece imensos fragmentos de experiência humana. Como, por exemplo, quando ficamos parados na cozinha tentando lembrar porque fomos até lá. Todo mundo faz isso, mas como não há – ou havia – uma palavra para tal, todos acham que é algo que apenas eles fazem e que, por conseguinte, são mais estúpidos dos que as demais pessoas. É reconfortante perceber que todo mundo é tão estúpido quanto você e que tudo que estamos fazendo quando ficamos parados na cozinha imaginado o porquê de termos ido até lá é simplesmente “woking”.
Gradualmente, pequenos montes de fichas com esses verbetes começaram a crescer dentro da última gaveta de John Lloyd, e qualquer pessoa que ouvisse sobre esses acrescentaria seus próprios conceitos.
Elas viram a luz do dia pela primeira vez quando John Lloyd estava organizando o calendário Not 1982, e estava empenhado na procura por coisas para colocar no rodapé das páginas (e também nos cabeçalhos e algumas nos meios). Ele revirou a gaveta, escolheu mais ou menos uma dúzia dos melhores verbetes e os inseriu no livro intitulado Oxtail English Dictionary. Rapidamente tornou-se um dos exemplares mais populares do Not 1982, e o sucesso da idéia nessa escala pequena sugeriu a possibilidade de um livro dedicado a isso – e eis o livro: The Mening of Liff, o produto de um trabalho duro de uma vida inteira estudando e relatando o comportamento humano.

 

*The Meaning of Liff e seu sucessor, The Deeper Meaning of Liff, são livros de co-autoria de Douglas Adams e John Lloyd.

Written By

Carlos Eduardo

Meu nome é Carlos Eduardo e já completei 37 primaveras. Meu sonho é ter um robô de estimação e viajar o mundo em um balão.