Aliás, simpatia em pessoa!

Tive a oportunidade de entrevistar por telefone o ator Colman Domingo, que interpreta o personagem Victor Strand na série. Ele também esteve no filme Selma, no papel de Ralph Abernathy, um ministro, líder do Movimento dos Direitos Civis e amigo próximo de Martin Luther King Jr.

Além de ser uma pessoa extremamente simpático e aberto a qualquer pergunta, é um cara muito inteligente e que ganhou ainda mais minha admiração.

Confira abaixo a entrevista:

Obrigado Pelos Peixes: Como você decidiu ser tornar ator e quais são suas maiores influências?

Colman Domingo: Eu atuo há mais de 20 anos e o de um jeito estranho, acho que a atuação me encontrou. Eu estava na faculdade, e um professor chegou e perguntou “você já pensou em atuar como profissão?” E eu respondi “não. Nem seria se isso poderia dar certo.” Foi a primeira vez que alguém disse que eu tinha um dom, eu tinha um dom como ator e contador de histórias, e ele disse que me ajudaria nisso.

Acho que minhas influências nunca foram atores ou atrizes, são pessoas que fazem coisas importantes pela humanidade, como Nelson Mandela, ou escritores. Minha influencias são doutores, cientistas, pintores, grandes pensadores. Elas são bem variadas e raramente vem do mundo da atuação.

OPP: É diferente quando alguém diz que você tem um dom, a atuação não foi algo que você procurou.

CD: É tão importante quando alguém visualiza algo em você, isso é muito poderoso, então eu sempre tento dizer tudo que eu vejo e acho fascinante (risos).

OPP: Eu estava pesquisando sobre sua carreira e li que você também é professor. Talvez seja uma pergunta difícil de responder mas, o que você gosta mais, ensinar ou atuar?

CD: Acho que a pergunta vai além disso. Sou mais do que ator, sou diretor e roteirista na maior parte do tempo. A pergunta seria o que é mais prazeroso para mim. Acho que juntar pessoas, inspirá-las. influenciá-las e mostrar os seus dons, é algo que me deixa muito feliz.

OPP: Fear The Walking Dead é um spinoff de uma série adaptada dos quadrinhos. Qual livro ou quadrinho você gostaria de ver na TV ou no cinema?

CD: Existe um livro chamado Coffee Will Make You Black da escritora April Sinclair, e eu sempre achei que seria uma ótima série de TV. É a historia de uma gartoa de 15 anos que mora nos arredores de Chicago nos anos 60. É engraçado, é estranho, mostra a relação dela com a mãe e a avó, e garotos na escola, e ela está encontrando seu caminho, o caminho de uma jovem nos anos 60. O que eu amo nesse livro é que é realmente a história de uma mulher, não é politizado demais, não é exagerado e qualquer pessoa de qualquer cultura irá se identificar, é realmente sobre crescer e se encontrar. E cheguei a sugerir algumas vezes à autora dela transformar em série, e não vou desistir disso. Cheguei a comentar em uma postagem dela no facebook “Coffe Will Make You Black deveria ser uma série de TV, me ligue quando você estiver pronta” (risos).

OPP: Agora eu me interessei pelo livro, vou procurar para ler!

CD: Leia, você não vai se arrepender. E vai me agradecer depois.

OPP: Nos últimos anos, foram lançados vários filmes e séries com zumbis. Você acha que cada década tem seu monstro? Já tivemos vampiros, lobisomens…

CD: Acho que há algo muito interessante em todas essas histórias sobre zumbis. Acho que elas atingem nossos medos. Não existe esse tipo de medo com lobisomens por exemplo. Acho que há um tipo de ideologia com zumbis, você entende que eles não estão mais vivos, mas você tem medo de ver que ainda existe um pouco da humanidade nele, e envolve escolhas difíceis, por exemplo, se um homem vê sua esposa como um zumbi, e parece que ela está viva, mas ele sabe que ela não está, que não é mais ela ali. É bem complexo. E existem vários detalhes sobre o “gênero” zumbi, como eles se movem, como eles agem, porque ele sentem fome, e isso mexe com todos os medos humanos, e por isso esse universo continua expandindo. É o universo que nos mostra quem somos, nos desafia, mostra as difíceis decisões que temos que tomar em relação à humanidade. E como isso nos muda.

OPP: Adorei sua análise sobre zumbis. Nunca tinha pensado dessa forma.

CD: Sim, é bem mais profundo do que todos imaginam. É engraçado porque eu nunca tinha entendido o gênero até trabalhar na série, e quando eu comecei a ler os roteiros, percebei que não é sobre zumbis, e sim sobre nós, os humanos vivos.

OPP: E sobre representatividade? Você acha que está melhorando ou as pessoas ainda precisam batalhar muito para ser mostrado na TV e no cinema?

CD: Acho que devemos continuar batalhando, de todas as maneiras. Nós estamos seguindo a direção certa, o que é ótimo. Precisamos de escritores e roteiristas mais audaciosos para criar personagens femininas e fortes, personagens com diferentes sexualidades, personagens que não seguem o que todo mundo pensa sobre ser negro, latino ou americano nativo (índios), que não sejam estereotipados. Então acho que estamos sendo direcionados no caminho certo.

OPP: Eu particularmente gosto da forma como o seu personagem é abordado na série. Ele (Victor Strand) é gay, mas isso não é o mais importante. A história dele não se baseia no fato dele ser gay ou hétero.

CD: Isso eu que amo no personagem. A história dele, eu não sabia disso até a segunda temporada, quando David Erickson (um dos criadores da série) me perguntou “e se Abigail fosse um homem?” e eu achei incrível. Isso daria mais complexidade ao personagem, principalmente porque os telespectadores já conheciam ele e a maneira que ele age, e ele não demonstra nada em relação a sua sexualidade. O truque sempre foi ter um personagem que seguisse uma linha de comportamento mostrando sua sexualidade, como por exemplo o melhor amigo engraçado e gay.

E eu tenho muito orgulho desse personagem por isso, o relacionamento enter Victor Strand e Thomas Abigail (interpretado por Dougray Scott) foi apenas jogado lá, é apenas mais um relacionamento amoroso. E depois disso, Victor Strand segue seu caminho, não se torna sobre o relacionamento entre Victor e Abigail, ele continua agindo como antes, com sua personalidade, e não é sobre sua sexualidade.

OPP: E o que você pode nos contar sobre a terceira temporada de Fear The Walking Dead?

CD: Essa temporada tem mais ação do que o elenco jamais imaginou. A história está ainda mais incrível. Acho que é a natureza da série que, antes os personagens não sabiam muito sobre a raça humana, e cometiam erros. E na terceira temporada eles sabem um pouco mais, então vão se sair melhor agora. Agora é uma temporada de sobrevivência, a todo custo. Há decisões difíceis de se tomar, alguns personagens importantes saindo, personagens novos surgindo. É um temporada emocionante.

 

Imagem inédita da Terceira Temporada.

Lembrando que segunda parte da terceira temporada de “Fear the Walking Dead” estreia neste domingo, dia 10 de setembro, às 22h, no canal AMC, e o retorno terá dois episódios consecutivos.

Nos próximos episódios, as famílias Clark e Otto conseguiram uma trégua desconfortável com a Nação, já que eles precisam encontrar uma maneira de sobreviver juntos. A tensão aumenta no Broke Jaw Ranch à medida que sua milícia é dizimada, os recursos se tornam escassos e os Mortos invadem. A represa Gonzalez, que é uma fonte de vida, é o maior prêmio rumo ao sul. Strand atingiu o fundo do poço e precisa de um parceiro para explorar a única moeda do mundo, se um dia ressuscitar. Enquanto isso, Daniel tornou-se novamente el soldado e passa o seu tempo a serviço de Lola e da barragem, mas ainda não deixou para trás o fantasma de Ofelia.

 

 

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May

Uma whovian que nunca esquece de levar sua toalha na TARDIS e nunca dispensa uma xícara de chá. Ainda acha que vai encontrar a pergunta fundamental sobre A Vida, o Universo e Tudo o Mais em alguma viagem no tempo ou no espaço.