Desde que começou a avalanche de informações e as inúmeras ações de marketing sobre Deadpool, eu já tinha criado na minha cabeça a teoria de que ele seria o mais novo anti-herói queridinho da Marvel por conta do seu jeito “foda-se isso, e aquilo também”. Veja bem, eu não conhecia sobre ele, não pesquisei e deixei a surpresa tomar conta do meu coraçãozinho.

Logo que o filme estreou, a timeline se encheu de gente achando genial as tiradas e os inúmeros palavrões proferidos pelo personagem. Foi aí que eu pensei: “Já tô vendo que vou passar nervoso no começo ao fim do filme. Aquelas ofensas clichês sobre minorias, mulheres e um falocentrismo que eu tô de boa de achar engraçado, mas vamos ver. Eu gosto de sofrer, parece. ”

E não é que para a minha surpresa, foi bem tranquilo?

Antes de mais nada, vale ressaltar que o filme não é para quem tem coração mole. Com diálogos cheios de ofensas, palavrões infinitos e cenas com sangue e tripas voando, não adianta esperar um conto de fadas.

Deadpool é o primeiro herói pansexual, mesmo com o filme focando apenas na relação heterossexual do protagonista, há algumas menções e cenas no filme que mostram que sua orientação sexual não é uma linha reta. Choram as famílias tradicionais brasileiras.

O filme não passa no Teste Bechdel, infelizmente, mas existem boas personagens femininas, e é delas que vamos falar.

SPOILERS A PARTIR DAQUI

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Vanessa, a companheira do Deadpool interpretada pela Morena Baccarin, é mostrada como uma personagem de caráter forte, sem vergonha de mostrar seu desejo em relação ao sexo. Ela também é uma prostituta e tem zero vergonha disso. É respeitada como uma profissional do sexo, faz o seu dinheiro e conhece os seus limites. Até acontece a cena clássica de namorada-indefesa-que-é-sequestrada-para-chamar-atenção-do-namorado, mas numa reviravolta, é Vanessa quem acaba salvando Wade.

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Temos também a Blind Al, que acaba se tornando companheira de quarto do Deadpool durante um período de sua vida. Ela é uma mulher negra rabugenta que faz o papel de “casal idoso” com Wade numa troca intensa de xingamentos. Al deixa bem claro que não está nem aí para o que pensam dela e responde Wade sempre à altura, nunca abaixando a cabeça. Além de render boas risadas.

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Depois temos a Negasonic Teenage Warhead (Míssil Adolescente Megassônico), que rouba todas as cenas em que aparece. Ela não combate o crime em nenhum tipo de espartilho, não é namorada de nenhum super-herói e nem a versão feminina de alguém.  Apesar de termos sido apresentados a ela na sua melhor versão adolescente millenium que para e tuita segundos antes de uma grande batalha, seus poderes são mostrados de forma intensa e suas estratégias de batalha ficam claras. Ela não leva desaforos para casa e definitivamente não está ali para brincar.

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E por último, e não menos importante, temos a Angel Dust, uma personagem que poderia ser descrita como “a força” ou “os músculos”. Angel não é muito explorada no filme, mas podemos ver uma personagem forte, que obedece a ordens sem questionar e que não veio para perder. Poderia ser interpretada por um personagem masculino e, por isso, já fico feliz de terem colocado uma mulher ali. Espero que mostrem mais dela nos próximos.

Outras considerações que eu gostaria de ressaltar:

– Como Ryan Reynolds retrata a insegurança do Deadpool, ao perder sua aparência física antiga, mostrando que homens também são vulneráveis aos padrões de beleza;
– A cena em que o Colossus fica sem graça com o peito da Angel à mostra e ela se aproveita disso para bater nele;
– O questionamento do Deadpool no que diz respeito a bater nas mulheres que trabalham para o seu inimigo, Ajax.

No geral, o filme não me decepcionou. Claro que existem problemas, muitas piadas de pinto (qualquer semelhança com a vida, não é coincidência) e algumas falhas em relação a algumas piadas que dão margem para belas problematizações, mas rendeu boas risadas e aquela faísca de esperança num humor que mostra que é possível sim, fazer graça sem menosprezar ninguém. E que personagens femininas tem muito mais do que peitos e bunda a oferecer.

Written By

Andressa Dreka

28 anos, redatora e social media. Ainda não descobriu a resposta para A Vida o Universo e Tudo o Mais, mas aguarda ansiosamente ela explodir na sua cabeça enquanto se diverte em alguns Restaurantes no Fim do Universo tomando uma boa Dinamite Pangaláctica.