A trama da série de TV e dos livros é bem diferente…

Douglas Adams tem um lugar especial nos corações dos fãs de ficção científica – principalmente nos nossos corações de mochileiros. O Guia do Mochileiro das Galáxias, com seu calor humano, humor surreal, e alcance épico, é algo que  ninguém tinha vindo antes. Milhares de fãs ainda carregam uma toalha em sua memória.

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Os dois livros do Dirk Gently e o livro incompleto que você encontra no Salmão da Dúvida leva seu estranho senso de humor ainda mais longe. Ao contrário do Guia do Mochileiro das Galáxias, eles foram criados primeiro na forma de livro e e demorou anos até ter algum tipo de adaptação. Quando a BBC América e Netflix decidiram adaptar Dirk Gently para a TV, uma coisa estava na mente de cada fã – como seria o show comparado com os livros amados?

SEM SER COMPLETAMENTE AMERICANO

A mudança que mais se destaca para os espectadores desde o início é que a história se tornou americana. Isso não surpreende – é aqui que o showrunner Max Landis vive e trabalha. É também o maior mercado de TV do público que fala inglês. Apelar a um público americano sempre foi importante.

Mas Landis evitou fazer a Agência de Investigações Holísticas de Dirk Gently toda americana. Dirk ainda é britânico, tão britânico que às vezes irrita (mentira, a gente não se irrita com isso). Ele é o tipo de britânico estranho e bem articulado que reforça todas as expectativas sobre a Grã-Bretanha, mesmo nos surpreendendo bastante.

Este é um dos pontos fortes da série. Para a maior parte, isso parece o Dirk que lemos nos livros. Claro, a constante extravagância foi substituída por uma hiperatividade infantil. E, claro, ele parece muito mais atraente do que na maioria das mentes dos leitores – Stephen Mangan, que o interpretou em uma série anterior de curta duração, ficou com o excêntrico inglês desgrenhado todo para ele. Mas a natureza fundamental de Dirk, sua estranheza, auto-confiança e disposição para se intrometer na vida de outras pessoas, tudo isso permanece.

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UM ENREDO QUEBRADO

O enredo da série Dirk Gently é muito diferente dos livros. Existem novos personagens, amigáveis e vilões. O caso é diferente. O resultado é diferente. No entanto, há algo muito familiar sobre tudo isso.

Parte disso é o modo como a história se desenrola. É uma narrativa fraturada, na qual fios inicialmente desconectados e aparentemente incoerentes se entrelaçam em algo atraente. Isso é impulsionado pela viagem no tempo, a mesma coisa que estava no coração do primeiro livro de Dirk Gently. A forma como ele se desenrola, com viagens de tempo atrasadas para explicar e configurar eventos mais cedo, está de acordo com o trabalho de Adams.

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Há também detalhes familiares. Um gato desaparecido. Um empresário morto. Uma vasta herança. Eventos impossíveis. Dirk transformando as vidas de pessoas anteriormente comuns em confusões incoerentes.

Tudo isso parece agradar os fãs do material original.

FICANDO MAIOR

Enquanto muitas características do show coincidem com o livro, há partes que o fã sente as diferenças. São peças que tornam a história de Dirk maior em alcance. Eles parecem projetados para corresponder às expectativas de um  programa de TV moderno americano.

Os poderes psíquicos de Dirk são uma característica dos livros originais. Sua capacidade de conhecer o incognoscível e fazer grandes saltos lógicos é o que lhe permite resolver casos. Esses poderes não são explorados ou explicados – eles estão apenas lá.

O mesmo vale para o próprio Dirk e as aventuras em que ele se meteu. Nada disso é parte de uma rede mais ampla. Ele é apenas um estranho que se depara com situações estranhas e as segue.

O gênero de TV moderna prospera em algo muito diferente. Prospera no arco grande com grandes mistérios e estacas grandes. A Battlestar Galactica alcançará a Terra? Por que o elenco de Lost está na ilha? Quem vai acabar como rei de Westeros?

Seguindo esse preceito, descobrimos que Dirk é parte de algo maior. Uma parte secreta do governo americano criou psíquicos. Anos mais tarde, eles estão caçando-os.

Esses elementos se acostumam com o efeito Adams, permitindo ainda mais personagens e eventos estranhos. Todos os detalhes parecem muito apropriados para um show de Dirk Gently. No entanto, o tom mais amplo desta vertente, o mergulho em drama de conspiração e apostas de forma mundial, vai ser um peixe fora d’água para os fãs dos livros.

MUDANDO DIRK GENTLY

Se você trata isso como uma crítica, é uma questão de gosto. Isso não diminui o humor estranho do show ou do personagem de Dirk, mas ele mostra tudo sob uma luz diferente.

O Dirk que vemos na maioria das vezes, tanto nos livros quanto na TV, é externamente focado. A natureza de suas habilidades e como elas se encaixam no mundo não são importantes. Ele não está procurando a verdade sobre si mesmo e nem o público. Ele é apenas um excêntrico inglês.

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Fazê-lo parte de algo maior que muda isso. Agora, Dirk é um experimento, parte de uma conspiração desonrada. A existência de outros psíquicos, como uma assassina holística, encoraja tanto o público quanto o personagem a pensar sobre o “quem” e o “por que” de Dirk Gently. Seus poderes não são mais apenas um MacGuffin*.

Eles são um ponto importante da trama.

Isto acrescenta para algo que, para melhor ou para pior, se esforça para ter um sentido de alcance e de coerência em que Adams não estava interessado.

Dirk Gently’s Holistic Detective Agency – TÃO SURREAL QUANTO MAS MENOS LUNÁTICO

O resultado final é uma versão ligeiramente torta do original.

É tão surreal. Claro, não há monges robôs ou demônios escondidos atrás de átomos. Mas um assassino psíquico, um tubarão-gatinho, um terno de batalha steampunk e um culto de assassinos com vozes suaves compensam isso. Se fizesse sentido desde o início, isso não seria Dirk Gently.

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Mas o sabor desta estranheza e da história é diferente. É um pouco menos caprichoso. A o andar suave da estranheza de Douglas Adams foi substituída pelo estilo agressivamente “chapado de Max Landis. Adequado para uma história que começou no cérebro de um roteirista de Doctor Who; isto é como a empolgação da novidade do New Who comparada com o adorável arcaísmo do original.

Em suma, o show é tão verdadeiro para os livros quanto poderia ser apelando para um público mais amplo. Essa tentativa de ampliar a rede pode irritar alguns fãs, mas também vai ajudar a manter o show vivo, como mostrado pelo compromisso de uma segunda temporada.

Claro que nem tudo é perfeito – a adaptação de Howard Overman com Mangan interpretando Dirk estava mais próximo do original. Mas ao contrário dessa versão, a atual passou de três episódios.

E quem sabe, talvez introduza alguns personagens dos livros na série também. Afinal, tudo está conectado …

 

Via Sci-Fi Addict

 

 

 

*Na ficção, MacGuffin  é um dispositivo do enredo, na forma de algum objetivo, objeto desejado, ou outro motivador que o protagonista persegue, muitas vezes com pouca ou nenhuma explicação narrativa.

 

 

 

Written By

May

Uma whovian que nunca esquece de levar sua toalha na TARDIS e nunca dispensa uma xícara de chá. Ainda acha que vai encontrar a pergunta fundamental sobre A Vida, o Universo e Tudo o Mais em alguma viagem no tempo ou no espaço.